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quarta-feira, 1 de junho de 2016

Pobreza em Cabo Verde: Uma realidade vizível à todos

Em cabo verde existem pessoas que vivem na miséria, em casas improvisadas sem águas e sem energia eléctricas, pessoas com histórias de vida muito sofridas contudo esperançosas pois a riqueza dos pobres é a humildade. Entretanto o índice da pobreza vem diminuindo nos últimos anos, mas o país ainda apresenta uma grande quantidade de pessoas em condições de miséria e este problema afecta o desenvolvimento cognitivo de uma criança.
Por:Sidney Cardoso

Dia após dia batalham contra as dificuldades na esperança de vidas melhores mas vida amarga sempre surpreende com mais dificuldades, Conta Manuela, nome fictício, dado pelo Praia online.
Abatida diz que “a pobreza é para quem não tem sorte na vida”. Muita dificuldade vem enfrentando desde que decidiu morar em Palmarejo, há mais de 20 anos. “ Vivia no interior de Santiago com o meu filho, tínhamos uma vida razoável, mas decidi vender tudo e aventurar na cidade da Praia” diz. Contudo a vida nunca mais foi a mesma. A cidade da Praia não tinha “capacidade de dar resposta a todos que a escolhia como o refúgio”.
Manuela lembra, com lagrimas nos olhos, da sua vida quando jovem, diz-se arrepender de ter deixado a sua terra natal por uma fantasia. Nesses 20 anos já teve mais trés filhos, dois dos quais vive com ela, ãmbos não trabalham.
“Para vivermos levanto todos os dias às 05 da manhã para procurar garrafas de cerveja e vender”, afirma Manuela. Diz ainda que cada saco custa 100$00, para trazer alguma coisa à casa, tem de procurar comida para os porcos e tambem vender, “ procuro nos contentores, nas casas dos conhecidos, em toda a parte”.
Esta é a realidade da Manuela, a semelhança de muitas outras “Manuela” que vivem neste País.
Carla da Veiga é vendedeira de rua e conta que veio de Assomada para a Praia à procura de melhores condições de vida.
"Sou mãe e pai dos meus filhos e quando não tenho nada para lhes dar, sinto-me bastante triste. A minha situação é complicada de mais”.
Muitas Instituições criam projectos para combater a pobreza exemplo disso é a Fundação Cabo-verdiana de Solidariedade.
A FCS tem abrangência nacional e está presente em seis ilhas do arquipélago, nomeadamente, Santiago, Fogo, Santo Antão, São Nicolau, Sal e São Vicente. Tem ainda fomentado algumas iniciativas na diáspora, concretamente em São Tomé e em Moçambique, onde através do programa Operação Esperança, tem permitido a reabilitação de casas a cabo-verdianos que vivem em situações de carência graves. Segundo a presidente da FCS, citada pelo Nós Genti “estas foram experiências muito positivas que, certamente, irão ser repetidas em outras comunidades cabo-verdianas fora do país. Temos um projeto concreto para a comunidade na Guiné-Bissau que só ainda não se iniciou devido à conturbada situação políticaque a Guiné atravessa, mas assim que houver oportunidade, a nossa comunidade em Bissau também receberá o apoio da FCS”. Para além do programa Operação Esperança a FCS trabalha com o desenvolvimento e com a proteção das Crianças.
Pobreza prejudica o desenvolvimento do cérebro na infância
A criança vítima da pobreza, da miséria, não sabe do seu amanhã. Só sabe do hoje, da sua vida precária. Rotina eterna da falta de amor e de pão. Em casa encontra a "fartura do faltar", falta-lhe a comida, roupas, livros e cadernos. Na sua vida há pouco carinho, pouca atenção e muitas vezes falta do amor. Em casa e na escola descobre a constante falta de respeito e quando vai à escola leva poucos sonhos, poucas crenças.
 A falta de dignidade está presente ao seu redor, a criança pobre faz o que pode para ajudar a pagar as despesas da família. Batalha vendendo coisas na rua, catando lixos, por vezes lavando carros com a sua esperança de sobrevivência. Embora ainda não saiba o seu futuro já estava determinado quando nasceu; Para quem nasce pobre é muito, muito difícil fugir dele. Por mais que se esforce, Por mais que tente modificá-lo, mesmo que estude todas as lições de aula e de casa, mesmo assim ele não estará representado nos diversos conteúdos, pois a dureza da sua vida não está presente nas linhas e nem nas entrelinhas dos livros didácticos.
Samuel Pereira uma criança de 12 anos vive no bairro de Tira-chapéu diz levantar-se todos os dias às sete, às oito começa o seu dia de trabalho frente às paragens de autocarros a vender rebuçados. Cabisbaixo diz que trabalha para ajudar a mãe pois o pai morreu á 2 anos e “só restaram eu e a minha mãe que é doméstica e mais dois irmãos que estudam de manha” afirma o supracitado.
Questionado se gosta daquilo que faz, com uma cara vergonhosa, responde “quero ajudar a minha mãe, mas, agora, neste momento poderia estar a estudar ou a brincar”, afirma Samuel.
De acordo com a psicóloga Edna Duarte professora de universidade de Cabo Verde, "é fundamental aumentar o apoio por parte dos pais durante a primeira infância. É importante proteger e melhorar o ambiente propício ao desenvolvimento das crianças  durante os primeiros anos de vida". Edna Duarte faz um apelo aos políticos cabo-verdianos, afirmando que "Devem conduzir as políticas públicas destinadas a melhorar e reduzir as desigualdades".
Ainda frisa a psicóloga que a pobreza pode afectar o nível escolar isto porque uma má alimentação pode afectar não só a força física mas também desenvolvimento cognitivo do individuo falando mais particularmente da criança.
Muitos cidadãos partilham da mesma opinião que a Psicóloga, exemplo disso é Marcos Costa que frisa ser necessário Garantir condições para que as crianças possam acessar direitos básicos, como educação, saúde, lazer, integridade física e psicológica. Pois as crianças têm vindo a enfrentar inúmeras dificuldades incluindo os abusos que sofrem durante a infância. `` Neste país há uma tendência enorme desigualdade na distribuição de renda e elevados níveis de pobreza. Um país desigual, exposto ao desafio histórico de enfrentar uma herança de injustiça social que exclui parte significativa de sua população do acesso a condições mínimas de dignidade e cidadania``.

A pobreza e a miséria marcaram definitivamente a história do país
Desde sempre grande contingente da população cabo-verdiana conviveu e continua a conviver com situações de precariedade social e económica. Esta situação é resultado de uma base produtiva débil e sobretudo de uma capacidade insuficiente de geração de receitas para investimento capaz de absorver em condições sustentáveis, parte.
Presidente da INE- António Duarte
O presidente do INE António Duarte realçou que os dados sobre a pobreza em Cabo Verde remontam a 2007, adiantando que decorre actualmente um inquérito sobre esta matéria e que em 2016 haverá dados actualizados.
"Na questão da pobreza os dados que existem são os de 2007. Estamos a realizar o inquérito e só depois da realização do inquérito estaremos em condições de dizer se houve agravamento ou não da pobreza. Neste momento não temos elementos para fazer nenhuma especulação", disse António Duarte,
Segundo INE em 2007 a percentagem da população pobre, população vivendo abaixo do limiar da pobreza (pessoas que vivem com menos de 49.485$ por ano) era de 26,6% (QUIBB, 2007), sendo a maior incidência foi observada no concelho de Santa Catarina do Fogo (59%) e a menor, na Ilha do Sal (4%).
De acordo com os dados de QUIBB 2007 (questionário unificado de indicadores), a profundidade da pobreza foi de 8,1%, sendo que no meio urbano este valor foi de 3,3% e no meio rural de 14,3%. Em relação a intensidade da pobreza, esta atingiu o valor de 3,4% em 2007, sendo que no meio urbano foi de 1,3% enquanto no meio rural atingiu o valor de 6,3%. 
Este fenómeno é encontrado mais nos bairros cuja urbanização é desorganizada. Mais de um terço dos agregados familiares liderados por mulheres estão em situação de pobreza (33%), enquanto 21 por cento dos chefiados por homens se encontra na mesma situação. Quase metade das famílias mais numerosas - com sete ou mais filhos -são as mais pobres (43,5 por cento).


Alberto Augusto De Mello Lima 
Segundo o vereador das infra-estruturas Câmara Municipal, Alberto Augusto De Mello Lima Filho realça que têm feito muitas infra-estruturações, vários calcetamentos em diferentes bairros sobre tudo em Tira Chapéu onde se verificou com mais problemas aqui na cidade de Praia. Nestes trabalhos empregam diversos jovens diz “o nosso projecto é sempre de criar novos empregos e em 2015 criamos cerca de 2000 mil empregos”.
Em relação às crianças diz sempre apostar na educação não cobrando nos jardins ou mesmo, colocando preços mais acessíveis nestas e também nas escolas. Ainda acrescenta que estão sempre criando novos centros de lazer de estudos para que as crianças e adolescentes possam acompanhar as novas tecnologias.
A cidade da Praia, capital do país e principal núcleo populacional da ilha tem cerca de 150.000 habitantes (área urbana) tem visto a sua população aumentar significativamente, pois continua sendo o lugar de maior preferência migratória do país. Estima-se hoje que mais de metade das migrações internas em Cabo Verde são feitas em direcção à cidade da Praia. Trata-se na maior parte dos casos de migrações de populações camponesas, que procuram uma saída para a situação da pobreza. Na realidade assiste-se à transferência da pobreza para esta cidade aumentando assim a sua quota-parte na formação nacional.
Assim, a cidade conheceu um ritmo de crescimento demográfico explosivo, o qual terá induzido a um crescimento urbanístico igualmente explosivo mas também desordenado, de tal forma que o planeamento urbano tem sido ultrapassado e os serviços essenciais de água, saneamento do meio, energia eléctrica e outros são permanentemente saturados. Crescem bairros espontâneos na periferia da cidade que constituem as principais zonas de concentração da pobreza.
Nestes bairros predominam situações de grave carência social, como por exemplo: desemprego, a promiscuidade, a falta de condições habitacionais, a carência do abastecimento de água, a insalubridade do meio ambiente, que por si só acarretam outros problemas como abandono escolar, delinquência juvenil, prostituição, droga e outros caminhos obscuros que podem levar mesmo à morte.
A pobreza como um problema global
O conceito de pobreza pressupõe um conjunto de opções normativas, de juízos de valor sobre padrões de vida, normas sociais, valores éticos, localizados no tempo e no espaço.
A pobreza global é caracterizada por “insuficientes rendimentos e recursos produtivos que garantam condições de vida sustentáveis, fome e má nutrição, doenças, acesso reduzido ou mesmo nulo a educação e a outros serviços básicos, mortalidade e morbilidade crescentes resultantes de doença, sem casa ou habitação inadequada, ambientes inseguros e discriminação social e exclusão. É também caracterizada por falta de participação no processo de tomadas de decisão e na vida civil, social e cultural. Note-se que não existe nestas definições uma referência clara às liberdades e direitos humanos.
O Programa Nacional de Luta contra a Pobreza (PNLP), que vem sendo executado desde 2000 a esta parte, está integrado no Plano Nacional de Desenvolvimento 1997-2000 e no de 2002-2005, tendo como sub-programas: i) a integração dos pobres na economia, ii) a melhoria do acesso social dos pobres, iii) a mobilização social, iv) o reforço da capacidade institucional. 

O PNLP define como metas a atingir, a redução da taxa da pobreza, a erradicação da pobreza absoluta, a elevação do rendimento médio das camadas que vivem abaixo do limiar da pobreza, a melhoria da capacidade produtiva dos pobres, a melhoria das infra-estruturas económicas e sociais das comunidades pobres e a reconversão das FAIMO, viradas para os seguintes gruposalvo prioritários: mulheres, sobretudo mulheres chefes de família; trabalhadores das FAIMO; desempregados e, particularmente, jovens desempregados; grupos vulneráveis (idosos, portadores de deficiências, crianças abandonadas, inválidos).  

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